Avaliar riscos deveria fazer parte de planejamento estratégico de empresas e governos, diz especialista
Do aquecimento das calotas polares à inundação de áreas cada vez maiores em diversas regiões, do inverno congelante em países que, antes, mal tinham frio, às frequentes ondas de calor, as mudanças climáticas já são parte do cotidiano de comunidades em todo o planeta. Mas o cenário previsto pelos cientistas para os próximos anos pode ser ainda mais catastrófico e, apesar do alerta, muitos entes da sociedade ainda não começaram a levar a sério essas previsões. Afinal, o que acontece se esse cenário realmente se confirmar?
De acordo com o primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), até 2100 as temperaturas no Brasil devem subir entre 1ºC e 6ºC em comparação ao que foi registrado no fim do século XX. A ocorrência de secas e estiagens prolongadas também deve se intensificar nas próximas décadas, principalmente no fim deste século. O relatório fez projeções específicas para cada uma das regiões do país. A conjuntura desenhada por ele não é muito diferente daquelas estabelecidas por outras instituições internacionais ao longo dos últimos anos.
Governos de todas as esferas e a liderança das empresas deveriam começar a refletir sobre esse questionamento, defende o professor de Finanças Sustentáveis da Universidade Positivo, Carlos Luiz Strapazzon. Para ele, o desenho dessas previsões deveria estar no horizonte do planejamento estratégico de todas essas entidades. “A avaliação de risco deveria ser o primeiro indicador de qualquer organização, seja pública ou privada. Por exemplo, o que acontece com o agronegócio se os riscos estimados estiverem certos? Estamos conscientes dos riscos ambientais inerentes ao planejamento estratégico dessa empresa ou instituição? Isso precisa ser considerado”, destaca.
Assim, cada organização pode definir a melhor forma de implementar adaptações e mudanças que estejam adequadas aos mais variados tipos de possibilidades futuras. O mesmo vale para as diferentes instâncias governamentais. O especialista lembra que o planejamento plurianual sempre precisa ser desenvolvido sobre um mapa de riscos. “Quem já está fazendo isso é o Banco Central. Ele faz testes de avaliação de estresse climático sobre o sistema financeiro, o que deveria ser exemplo para todos. A avaliação de riscos deveria fazer parte de qualquer planejamento.”
A definição de políticas públicas também precisa levar em conta as possíveis consequências climáticas. Para isso, defende Strapazzon, o ideal é que cada país adapte os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) à realidade local e, em seguida, articule as ações entre os governos federal, estadual e municipal. “Nem todos os objetivos devem ser realizados ao mesmo tempo e os países podem estabelecer suas prioridades. Por fim, é preciso comunicar isso claramente à sociedade brasileira, para que todos saibam em qual direção aplicar esforços”, completa.