Precatórios, pensões e aposentadorias devem impulsionar economia em 2024, diz José Maurício Caldeira

Empresário sócio e membro do conselho da Asperbras Brasil avalia que injeção de recursos pode ser base para crescimento


Analistas do mercado financeiro acreditam que um dos vetores que podem impulsionar o PIB este ano é o pagamento de precatórios represados, pois bilhões de reais passam a irrigar a economia, além do volume de dinheiro deve irrigar a economia por meio do pagamento de pensões e aposentadorias. Precatórios são dívidas do governo com empresas e pessoas cujo pagamento já foi determinado pela Justiça em última instância. O governo Bolsonaro havia adiado este pagamento para 2026, mas o governo Lula decidiu honrar as dívidas e editou no final de 2023 uma Medida Provisória abrindo um crédito extraordinário de cerca de R$ 93 bilhões.

José Maurício Caldeira - Economia

A MB associados projeta um crescimento de 1,7% para este ano e o Itaú de 1,8%. Bancos e consultorias acreditam que esses recursos dos precatórios podem adicionar entre 0,2 p.p. e 0,3 p.p. ao PIB. Em relatório recém-divulgado, o Fundo Monetário Internacional (FMI), aumentou a perspectiva de crescimento do Brasil de 1,5% para 1,7%. Já o Ministério da Fazenda, sempre mais otimista, projeta um avanço de 2,2% do PIB este ano.

As estimativas são de que as pessoas físicas recebam mais de R$ 40 bilhões, dos quais R$ 27,1 bilhões são destinados a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). “Esse dinheiro vira renda extra para as famílias, que podem movimentar a economia com a aquisição de bens e serviços”, diz José Maurício Caldeira, sócio e membro do conselho da Asperbrasgrupo que atua em diversos setores da indústria e do agronegócio. Ele pontua o cenário macroeconômico favorável. “Nos últimos três anos, o Produto Interno Bruto (PIB) surpreendeu positivamente, com avanço no encerramento do ciclo anual bem acima do previsto pelos economistas em janeiro. As previsões do mercado de crescimento para este ano começaram mornas, em 1,5%, mas em menos de um mês já estão subindo (1,6%) e instituições e consultorias importantes estão com estimativas mais altas ainda”.

 

José Maurício Caldeira - Economia
José Maurício Caldeira, empresário sócio e membro do conselho da Asperbras. (Foto: Divulgação)


Outros vetores positivos apontados pelos especialistas são o mercado de trabalho, que tem se mostrado resiliente e com desempenho sempre superior ao esperado; o aumento real do salário mínimo, já em vigor; e o Programa Desenrola Brasil, que foi prorrogado até março. Cerca de 11,5 milhões de pessoas já aderiram ao programa que renegociou, até o momento, R$ 34 bilhões em dívidas. 

 

Taxa de juros em queda

Além disso, embora ainda esteja alta, a expectativa a taxa de juros deverá continuar sua trajetória de queda este ano. “A inflação tem se mostrado comportada, vindo abaixo das expectativas e as previsões para 2024 têm caído semana a semana”, lembra José Maurício Caldeira. “Os preços em queda possibilitam uma baixa consistente da Selic”, avalia o sócio e membro do conselho da Asperbras. “O consenso de mercado estima uma taxa de 9% ao fim de 2024, mas se os preços continuarem surpreendendo para baixo o Banco Central será pressionado a intensificar o corte dos juros”, complementa. Ele acredita que a redução dos juros é fundamental para o crescimento da economia, pois barateia o crédito tanto para as famílias, que desta forma conseguem consumir e adquirir bens mais caros, quanto para as empresas. “Crédito acessível é condição essencial para as empresas realizarem investimentos e é isso que garante um crescimento sustentado”.   

 

Agro mais tímido

Importante vetor positivo para o crescimento do PIB de 2023, que deverá ficar próximo de 3%, a agricultura não dará um impulso tão forte à economia em 2024. No ano passado, com a supersafra de 320 milhões de grãos, a agropecuária cresceu 22%. Agora, por conta do clima, a estimativa de especialistas é de uma quebra de safra em torno de 15 milhões de toneladas de grãos.

Outra fonte de dúvidas é a incerteza fiscal que ainda paira sobre a economia brasileira. Em 2023, o governo registrou um déficit primário de R$ 230,5 bilhões, ou 2,1% do PIB. É o pior dado desde 2020, quando começou a pandemia de Covid-19. “Este valor inclui o pagamento dos precatórios, mas mesmo que sejam excluídos o déficit primário foi de R$ 138,15 bilhões, ou 1,27% do PIB”, lembra José Maurício Caldeira.

 

Economia norte-americana

No âmbito global, as incertezas geopolíticas seguem em alta em função dos riscos referentes à guerra de Ucrânia e Rússia e aos combates entre Israel e o grupo Hamas, no Oriente Médio. Do ponto de vista macroeconômico, as perspectivas para o mundo melhoraram em relação ao último trimestre de 2023. No relatório Panorama Econômico Mundial de janeiro, o FMI prevê um crescimento global de 3,1% para 2024, um avanço de 0,2 p.p. em relação ao relatório de outubro de 2023.

A revisão das condições dos Estados Unidos para este ano, cuja estimativa de crescimento do FMI saltou de 1,5% (em outubro) para 2,1% (em janeiro), explica boa parte do cenário mais positivo.

Assim como o desempenho da China, com crescimento projetado de 4,6% (0,4 p.p. a mais que outubro), e da Índia, onde é esperado um forte avanço de 6,5% (0,2 p.p. a mais que outubro), refletindo a resiliência da demanda interna. “Esse conjunto de dados é uma boa notícia para o Brasil. Como é grande exportador de commodities, o país é um dos grandes beneficiados de um crescimento mundial robusto”, finaliza José Maurício Caldeira.

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