Ser negro no Brasil é carregar a culpa na pele. É ter sua humanidade reconhecida pelo viés da criminalidade, herança da escravatura. No esporte não tem sido nada diferente. O futebol que já trouxe tantas alegrias ao Brasil com craques como Pelé, Garrincha, Didi, Carlos Alberto, Romário, Cafú, entre tantos outros negros, têm sido palco de ataques racistas aos atletas contemporâneos.
Quando citei que vivemos um tempo assustador, me referia ao ritmo acelerado de informações que temos ao nosso alcance hoje e, mesmo assim, a discriminação racial impera impune e segue adiante. Temos visto que nos casos de racismo no futebol a represália e a comoção há quando a imprensa escrita, falada e televisionada comenta o caso. Em algumas situações vemos clubes sendo responsabilizados, mas o interesse pelo assunto para por aí. Melhor dizer, não há interesse em inibir com rigidez os racistas a se manifestarem desta forma, embora saibamos que houve um avanço no trato com tais questões dentro do meio futebolístico.
É inevitável perceber o relacionamento da liberdade de manifestações racistas hoje em dia em nosso país, talvez pela ascensão de grupos radicais que usam de subterfúgios políticos para impetrarem aos negros, a pesada carga racial de subserviência, ou seja, tudo é motivo para tentar lembrar o lugar do negro no escalonamento social desajustado que o Brasil foi alicerçado. Distribuição assimétrica de poder, racismo. Enquanto isso, nos portões de fora dos ricos estádios de futebol, meninos e meninas negros que sonham com o mundo do futebol, devem ainda se preocupar com suas condições intelectuais e psicológicas para, mais uma vez, serem fortes diante de atos discriminatórios.
Ser negro no Brasil é resistir todos os dias, a não ser que o negro faça um lindo gol de placa e erga a taça de campeão do mundo em novembro. Condição que o fará branco diante de uma sociedade convenientemente daltônica.
Doutorando em Literaturas Africanas e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Estácio