Opinião: O todo-poderoso Xi

João Alfredo Lopes Nyegray*


Xi Jinping confirmou-se como o mais poderoso líder chinês desde Mao Tsé-tung. A partir da década de 1980, o mandato presidencial na China era limitado a dois termos de cinco anos. Uma alteração na Constituição da República Popular da China, ocorrida em 2018, permitiu a Jinping um terceiro mandato. Tendo assumido o cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista da China (PCCh) em 2012 e a presidência da nação em 2013, Xi Jinping veio não apenas concentrando poderes, mas também expurgando rivais. Estima-se que mais de 4,7 milhões de pessoas foram investigadas por ordem do líder, e que apoiadores antigos foram acusados de deslealdade ou corrupção.

Xi Jinping estudou engenharia química na década de 1970, e tem doutorado em engenharia química e em ciência política. Em 1987, ele casou-se com uma famosa cantora chinesa, Peng Liyuan, com quem teve dois filhos. O pai de Jinping foi chefe do departamento de propaganda do Partido Comunista, de onde foi expurgado e enviado para campos de trabalho forçado em 1966 – tendo sido reabilitado apenas em 1979.

O primeiro cargo político de Xi foi também em 1979, como secretário pessoal do então ministro da Defesa do país, Geng Biao. Depois disso, Jinping foi galgando novas posições e escalando degraus rumo ao comando do PCCh: foi vice-prefeito da cidade de Xiamen e governador da província de Zhejiang. Em 2007, Xi Jinping foi nomeado secretário do PPCh em Shanghai, e, pouco depois, foi transferido para a capital Pequim onde assumiu um cargo no “Comitê Permanente do Politiburo”, a principal instância decisória do Partido Comunista da China.

Toda a ascensão de Xi Jinping foi possível pela lealdade ao Partido, cujas ordens cumpria para permanecer no poder, e pelo controle que exerceu dos aparatos internos de segurança da instituição. Após ter assumido a presidência, pessoas ligadas aos rivais diretos de Jinping foram presas, investigadas e acusadas de corrupção. Cargos importantes na China são exercidos não apenas por pessoas de confiança do líder, é mais do que isso: são pessoas que estudaram ou já trabalharam com Jinping, e com quem o todo-poderoso possui um relacionamento próximo e pessoal.

Sob sua constante vigilância, a China aprimorou suas tecnologias, desenvolveu-se militarmente, apertou ainda mais o controle da imprensa e impôs uma política externa muitas vezes agressiva. Não à toa, há guerra comercial com os Estados Unidos – que tem sido vista como uma Segunda Guerra Fria; e o apoio velado à Rússia de Putin na guerra contra a Ucrânia. Cada vez mais, Jinping concentra poderes ao colocar de lado o modelo de liderança coletiva que até sua ascensão era a regra na China.

Suas ideias, intituladas “Pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas numa nova era”, foram incorporadas à constituição – uma honraria só dada a Mao Tsé-tung até então, e são ensinadas em escolas e universidades. Em seu discurso recente, Jinping pregou o controle sobre Taiwan, o que é preocupante, assim como a contínua luta contra a covid-19, cujos lockdowns severos afetaram fortemente a economia global nos últimos meses. Pela frente, há pelo menos mais 5 anos de Jinping, e tanto ele quanto a China parecem estar com o apetite aberto para cada vez mais poder.

*João Alfredo Lopes Nyegray, doutor e mestre em internacionalização e estratégia, especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais, é coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo. Instagram @janyegray

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