Sem
investimento na descarbonização, será impossível cumprir as metas ambientais
previstas para os próximos anos, observa José Maurício Caldeira, da Asperbras
Foto: Divulgação - José Maurício Caldeira
A economia global vive uma
crise relacionada à guerra no Leste Europeu e à expectativa de recessão em
escala mundial, estimulada pela desaceleração da China e inflação nos Estados
Unidos, principais atores deste cenário. Esses fatores integram um contexto
maior, que envolve o consumo desenfreado dos recursos naturais do planeta, as
consequências ambientais desse movimento e o peso disso entre a população.
“A análise do quadro econômico
mundial nos mostra que investir na preservação ambiental e em iniciativas
sociais é fundamental não só para a economia, mas para a sobrevivência da
sociedade como a conhecemos”, afirma José Maurício Caldeira, acionista e membro
do Conselho da Asperbras.
Caldeira pontua que as
políticas ligadas ao ESG (defesa do meio ambiente, preocupações sociais e de
governança corporativa, da sigla em inglês), que vêm tomando corpo nos últimos
anos, tornaram-se fundamentais em uma abordagem realista.
A primeira menção ao ESG
surgiu em um relatório de 2005, patrocinado pela ONU, intitulado “Who Cares
Wins” (Ganha quem se importa). “O documento trouxe à cena corporativa a
percepção de que empresas que adotam melhores práticas de governança, sociais e
ambientais, recebem diversos impactos positivos, têm maior lucratividade e
conseguem elevar seu valor de mercado ao longo do tempo”, lembra José Maurício Caldeira.
A transição para a economia de
baixo carbono, principal vertente ambiental do conceito ESG, requer
investimentos em inovação tecnológica, na substituição de combustíveis fósseis,
na manutenção e recuperação de florestas, na agricultura de baixo carbono e na
transição justa que permita que trabalhadores e comunidades sejam apoiadas e
capacitadas para novos ofícios e tecnologias.
Ocorre que hoje a conta de
investimentos em descarbonização não fecha. O volume anual de recursos
rotulados como financiamento climático é de aproximadamente US$ 600 bilhões.
Para o cumprimento das metas climáticas, isso é insuficiente.
Somente para zerar emissões
nos setores de energia e no uso da terra, por exemplo, segundo recente
relatório da McKinsey, seriam necessários investimentos adicionais na ordem de
US$ 3,5 trilhões anuais, além da realocação de determinados investimentos
existentes para a economia de baixo carbono. “Esses números indicam que falar
em ESG hoje não é apenas importante. É imprescindível”, afirma Caldeira.
ESG
NA PRÁTICA
José Maurício Caldeira é um
dos dirigentes da Asperbras, que atua há décadas em diversas áreas da
indústria, agropecuária e serviços. Ele cita como exemplo de atuação
empresarial consciente a GreenPlac,
subsidiária responsável pela produção de placas de MDF no Mato Grosso do Sul. A
empresa movimentou a economia de Água Clara, cidade de 20 mil habitantes, mudou
sua rotina e criou mais de 700 postos de trabalho.
A GreenPlac utiliza em sua
produção eucaliptos plantados pela própria Asperbras e que estão em fase de
certificação FSC, selo verde mais reconhecido no mundo, emitido pelo Forest
Stewardship Council. Além disso, as florestas plantadas pela companhia estão sendo
submetidas à certificação Carb (California Air Resources Board), que é
concedido a empresas que atendem a padrões elevados de sustentabilidade durante
o processo produtivo de painéis de madeira.
O selo Carb é uma exigência
para exportação para os Estados Unidos. A GreenPlac
reutiliza seus resíduos, que abastecem a indústria moveleira local. Toda a
energia que impulsiona o parque industrial da companhia vem, indiretamente, de
uma usina termoelétrica instalada em Guarapuava (PR), que funciona também a partir
da queima de resíduos de madeira, em um processo de compensação do carbono.
Vale lembrar que a GreenPlac emprega água de reuso das
chuvas em seu processo industrial, caracterizado por energia limpa, baixa
emissão de carbono, preocupação ambiental e social. A mão de obra da companhia
foi treinada pelo Senac do Mato Grosso do Sul, em uma parceria entre a entidade
e a empresa, que qualificou os trabalhadores a operarem a tecnologia alemã da
Siempelkamp, a mais moderna do mundo na produção de MDF.
“A filosofia de trabalho da GreenPlac é um exemplo prático da aplicação do ESG. E mostra, também, a viabilidade de empreender negócios profundamente enraizados nos conceitos ambientais, sociais e de governança justa e equilibrada”, finaliza José Maurício Caldeira.