Opinião: A pressão do ouro e a felicidade do bronze

Josy Cristine Martins*

Créditos: Envato


Alguns acontecimentos dos Jogos Olímpicos de Tóquio têm chamado atenção de espectadores e estudiosos, entre eles, os conflitos emocionais envolvendo os atletas, como foi o caso da ginasta norte-americana, Simone Biles. A atleta deixou de competir na final de quatro modalidades, nas quais era favorita ao ouro, para cuidar de sua saúde mental. Mas, apesar das adversidades, Biles disputou a final na trave e conquistou o bronze.

Conquistar medalha olímpica é algo exaustivo e exige, além do preparo físico, muito preparo emocional para enfrentar os resultados. E isso se reflete quando da conquista (ou não) de medalhas.

Em 2020, um grupo liderado pelo professor William Hedgcock, da Universidade de Minnesota, publicou um artigo no Journal Experimental Psychology, da Associação Americana de Psicologia, com o resultado da análise feita por meio do uso de um software, das expressões faciais de atletas que ganharam bronze, prata e ouro nas Olimpíadas realizadas entre 2000 e 2016. O que chama atenção nessa pesquisa do grupo de Hedgcock, e que reforça dados de pesquisas anteriores, foi a identificação de que, no pódio, medalhistas de bronze aparentam estar mais felizes do que medalhistas de prata.

O que pode estar por trás desse dado? Por que atletas que ficam em segundo lugar aparentavam estar menos felizes do que atletas que ocupam o terceiro lugar? Um primeiro ponto diz respeito às expectativas. Os atletas têm que lidar não só com suas próprias expectativas pelo bom resultado, como também com as que são projetadas pela equipe técnica, pelos patrocinadores e pelos torcedores.

Quanto maior a expectativa, maior a frustração caso não consiga entregar o resultado esperado. Quanto maior a expectativa, maior a necessidade de suporte emocional para que esses atletas consigam lidar com as adversidades. E as expectativas aumentam quando os atletas estão competindo pela medalha de ouro. Se estar nos Jogos Olímpicos, por si só, já é fator de pressão, esta se torna ainda maior diante da possibilidade de conquistar o ouro.

Chegar a uma final olímpica é uma grande vitória, todavia, conquistar a medalha de prata, pode não ter gosto de vitória, pois resulta da perda do ouro e a inevitável comparação com o primeiro lugar. Isso pode desencadear sentimentos de frustração e descontentamento. A prata pode deixar a sensação do “quase”, de estar muito perto do ouro, mas não alcançá-lo. E em segundo lugar, fica a imagem do perdedor.

O medalhista de bronze, por outro lado, encerra a competição como vencedor e sua performance tende a ser comparada com a de atletas que ficaram em posição inferior e, portanto, não ganharam medalha alguma.

Uma das lições que os Jogos Olímpicos de Tóquio certamente nos deixarão é: precisamos olhar os atletas como seres humanos e não como meros objetos de entretenimento para satisfação das nossas expectativas. Estar em uma Olimpíada, representando seu país, é motivo de orgulho e admiração. A medalha, seja ela qual for, deveria ser mais uma forma de reconhecimento do esforço de cada competidor.

Estar em um evento do porte de uma Olimpíada deveria ser, para os atletas, um momento de imenso prazer, uma oportunidade de mostrar ao mundo as maravilhas dos esportes, de se divertir fazendo o que ama, como foi no skate para a pequena gigante Raissa. E não um momento de sofrimento, como estava sendo para Biles. Nós deveríamos torcer pelo sorriso dos atletas sempre, independentemente do resultado nos agradar ou não.  

*Josy Cristine Martins, mestre em Psicologia, é professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo.

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