A expressão 'Meia Tigela' também foi tema de um dos vídeos Crédito: divulgação/Universidade Positivo |
Perpetuação de palavras racistas na Língua Portuguesa diz muito sobre o preconceito racial no Brasil; estudantes decidem chamar atenção para o assunto
Por mais que existam leis que garantam a igualdade entre todos e criminalize a discriminação racial, o racismo é um processo histórico tão enraizado que modela a sociedade brasileira até hoje. O racismo estrutural permeia as relações e está presente nas instituições, nos espaços de poder e também na forma de falar e se expressar, ainda que inconscientemente. Quando expressões como 'a coisa tá preta' ou 'denegrir' se tornam naturais e são faladas até mesmo por aqueles que se garantem não racistas, é um claro indício do quanto o preconceito está incorporado na sociedade.
Para chamar a atenção para a questão e fazer a sociedade refletir, um grupo de estudantes de Jornalismo da Universidade Positivo transformou um trabalho da disciplina de Mídia, Gênero e Etnia em uma série de vídeos curtos que pretendem explicar expressões racistas da Língua Portuguesa e indicar sinônimos para substituí-las. A ideia partiu do estudante Higor Paulino. "Fomos estimulados a estudar e debater temáticas como racismo e, durante a leitura de 'Pequeno manual antirracista', me dei conta de que inclusive eu, que sou negro, também reproduzo sem saber palavras e falas racistas", explica Higor. A partir da constatação, o estudante decidiu fazer um vídeo caseiro no qual explicava a origem da expressão 'meia tigela'. "Minha professora e meus colegas gostaram da proposta e decidiram ampliar o trabalho. O resultado: a série 'Não fale a língua do racismo', com oito vídeos, cada um explicando uma expressão racista.
Para Higor, as expressões são usadas no dia a dia e denotam discriminação, colocando essa população em situação de inferioridade. "Moldar o vocabulário é uma forma de combater o preconceito racial", finaliza o estudante. Segue abaixo uma lista com as expressões e por que não se deve usá-las.
Criado Mudo
Aquele móvel baixo que normalmente fica na cabeceira da cama tem esse nome porque, na época da escravidão, os escravos ficavam nesse mesmo lugar segurando as coisas para os “senhores”, sem fazer barulho, para não atrapalhar.
Mulata
Na língua espanhola, a palavra fazia referência ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade.
Nhaca
Desde o português do Brasil Colônia, a palavra vem sendo usada para referir-se ao mal cheiro, forte odor, no entanto Inhaca é uma ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Ban.
Nega Maluca
A personagem nega maluca é a representação exacerbada e totalmente estereotipada da mulher negra: preta, pobre, descabelada, com sua sexualidade explorada, exposta e hipervalorizada, sorridente ao extremo, o que muitas vezes pode representar uma falta de senso crítico diante das mazelas da vida.
A coisa tá preta
A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.
Meia Tigela
Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.
Doméstica
Negros eram tratados como animais rebeldes e que precisavam de “corretivos”, para serem “domesticados”.
Não sou tuas negas
A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo.
Sobre a Universidade Positivo
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