Opinião: O espaço escolar não pode esperar até a vacina chegar

 Milena Fiuza*



De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o fechamento das escolas tem causado consequências adversas. As perturbações resultantes desse movimento acentuam as disparidades já existentes nos sistemas educacionais, além de afetarem outros aspectos fundamentais da vida. Em recente publicação sobre o tema, a Unesco aponta itens sob a ótica da Educação que foram especialmente atingidos. São alguns deles: aprendizagem efetiva interrompida, agitação e estresse para professores, pais despreparados para a Educação remota, desafios na criação e manutenção do ensino não presencial, altos custos econômicos e aumento das taxas de abandono escolar.

A retomada presencial passa, naturalmente, pela opção de aguardar o momento supostamente mais seguro resultante de uma vacina. Ainda que o mundo viva uma corrida por uma solução contra a Covid-19, existe muita responsabilidade e milhares de testes antes que um imunizante seja distribuído. A cada nova notícia sobre o assunto, somos remetidos às possibilidades de se alcançar uma vacina eficaz e segura somente ao longo de 2021.

O fechamento de escolas tem evidentes impactos negativos sobre a saúde e desenvolvimento infantil, Educação, renda familiar e economia, a médio e longo prazos. Condicionar a decisão de retorno presencial das aulas à imunização global da população pode até parecer uma decisão 100% segura, mas, no entanto, escora e prolonga um cenário educacional que as instituições de ensino sustentaram até o momento com esmero, mas que começa a dar sinais de esgotamento do modelo e necessidade imediata de ajuste.

Para além da defasagem educacional constantemente mensurada pelas instituições e já mapeada para recuperação futura, têm se agravado as desigualdades e violências nos últimos seis meses. As crianças, além de terem seus estudos prejudicados, também enfrentam questões graves de violência em meio à pandemia. As crianças e adolescentes se mostram mais irritadas por estarem tanto tempo longe de seus colegas e de outros familiares.

O afastamento social tem mexido com as sensações da população mundial – e as crianças são especialmente vulneráveis. A perda dos espaços de apoio e convivência é um dos motivos para o aumento do estresse e, consequentemente, da violência contra as crianças e adolescentes. No mês de abril, o Governo Federal recebeu 19.663 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo um aumento de 47% em relação ao mesmo período do ano passado.

A escola, mais do que nunca, deve ser compreendida como atividade essencial. Se, em algum tempo, houve quem acreditou que poderia fazer educação escolar em casa, a quarentena trouxe os argumentos para dissuadir quem defendia esse conceito. O ambiente escolar não é apenas um espaço para construção de conhecimento, é sim um local seguro com um ambiente profilático propício para essas crianças e adolescentes. Nenhum outro espaço social está tão comprometido em cumprir as normas e regras para mitigar a doença, pois, afinal, tudo na escola é educativo, enquanto protegemos os alunos, ensinamos como devem proteger a si e aos outros, ao passo que nos adaptamos a viver com a Covid-19, até que uma vacina esteja acessível a toda a população.

*Milena Fiuza é gerente pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.


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