O principal motivo dessa carência está atrelado ao novo formato de cursos de qualificação desse profissional em virtude do isolamento imposto pela pandemia
Fotos: Renato Araújo.
Para os idosos, pacientes acamados os em pós-operatório, ou outro perfil, considerado grupo de risco pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sair de casa e ir até uma unidade de saúde para trocar um curativo ou receber medicação, por exemplo, é uma ação de alto risco, uma vez que tanto a rede privada quanto a rede pública de saúde estão sobrecarregadas com pacientes suspeitos ou infectados pelo novo Coronavirus (COVID-19).
Uma pesquisa realizada recentemente pela Fiocruz, com dados do IBGE (ConVid Pesquisa de Comportamentos), mostrou que no mês de agosto, quase 60% dos cuidadores de idosos permaneceram atuando com o público de risco.
No entanto, a pandemia, que já se estende para o seu sexto mês, na Capital da República, alterou a dinâmica de alguns processos na qualificação desses cuidadores. A necessidade de manter o isolamento social, exigiu que algumas etapas das preparações desses futuros profissionais tivessem o formato virtual, o que inviabiliza o aprendizado das práticas de cuidado, como realizar adequadamente a troca de fralda, higiene pessoal dos idosos, administrar medicamento via oral, entre outras atribuições desse profissional.
Segundo Eduardo Líneker, Diretor da Padrão Enfermagem, o DF tem carecido desses profissionais. Lineker lembra que os cursos eram ministrados antes da pandemia com uma parte teórica de 56 horas, uma parte prática em laboratório de 24 horas e estágio supervisionado em casa de idosos contendo 80 horas, totalizando 160 horas de curso.
“Durante a pandemia, os estágios nas casas de idosos e as aulas práticas foram suspensos, prejudicando a formação desses profissionais, que no momento aqui, na Padrão Enfermagem, fazem apenas a parte teórica e aguardam mudanças no cenário da pandemia para realizarem a parte prática e concluírem o curso”, explica.
Contudo, Lineker faz um alerta sobre um tipo de preparação que tem sido praticada no DF e a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada. “Como não é uma profissão ainda regulamentada, existem muitos cursos de cuidadores que estão oferecendo apenas a parte teórica e já certificam esses profissionais sem nenhuma carga horária prática ou de estágio. Porém, como uma agência de seleção desses profissionais, percebemos que o estágio e a prática em laboratório fazem muita diferença na formação dos cuidadores e o que vemos hoje são muitos profissionais com certificado, porém poucos realmente qualificados para exercer a profissão”, esclarece.
A empregada doméstica, Aurilene Rocha, está desempregada desde março e começou a fazer o curso de cuidador no mês de agosto. Segundo ela, por ter um perfil de auxiliar as pessoas, se identificou e procurou se qualificar para essa oportunidade. Para Aurilene, o formato digital prejudica o aprendizado. “Nesse momento onde não tem como realizar aula presencial, ficamos prejudicados na formação”, defende a estudante.